sábado, 16 de abril de 2011

Conflitos - IDENTIDADE GAY

Uma das questões mais polêmicas em relação à homossexualidade é a que trata da existência de uma “identidade gay”.

Defendida por alguns especialistas como uma condição necessária para o equilíbrio psíquico daqueles que sentem atrações homoeróticas, essa identidade é vista por outros como uma forma reducionista de abordar uma questão tão complexa.

Porém, independentemente do ponto de vista teórico adotado, grande parte dos profissionais que lidam com o tema reconhecem em seus clientes homoeróticos um processo de auto-aceitação que, via de regra, se dá de forma gradual e segue determinados estágios.

Esse modelo pressupõe a existência de estágios que, uma vez alcançados, determinam uma certa prontidão para a instalação de um repertório emocional/comportamental, tanto no nível pessoal como no social. É importante frisar que nem todas as pessoas atingem todos os estágios, e que não é também necessário que os façam (o grau de conforto pessoal e o potencial de risco social são sempre subjetivos e dependem de inúmeros fatores).



Os estágios são:

1. confusão de identidade: nesse estágio o individuo começa a notar, a reconhecer e a aceitar sua atração sexual por outros homens. Mas não se imagina gay e identifica-se como heterossexual. Nem todos os indivíduos que estão nesse estágio irão passar para o estágio seguinte. Alguns aceitam suas fantasias homoeróticas, mas nem por isso consideram a possibilidade de se tornarem gays.

2. comparação de identidade: durante esse estágio o indivíduo começa a considerar a possibilidade de que talvez seja homossexual. Ele provavelmente não emprega a palavra gay, uma vez que essa palavra está associada a um estilo de vida muito particular, com o qual ele não se identifica. É possível que aceite seu comportamento sexual, mas recuse a identidade. Ou que aceite a identidade, mas decida reprimir seu comportamento homossexual.

3. tolerância de identidade: aqui, o individuo já começa a identificar-se como gay, embora ainda tenha dificuldades em se aproximar da cultura gay. Nesse estágio as experiências (positivas ou negativas) são determinantes para a continuidade (ou não) no processo de formação e para que ele se mova (ou não) ao estágio seguinte.

4. aceitação de identidade: a passagem do estágio de tolerância para o de aceitação se dá a partir de um sentimento de pertencimento e de identificação com a comunidade gay. Nesse estágio o indivíduo tende a rejeitar os segmentos antigays da sociedade e a se aproximar cada vez mais de outros gays, adotando comportamentos, hábitos e linguagem própria do grupo gay com o qual se identifica.

5. orgulho de identidade: nesse estágio o indivíduo identifica-se totalmente como gay, reforçando, sempre que possível, as diferenças entre gays e heteros. Podem surgir sentimentos de “nós contra eles” e uma necessidade de se assumir completamente. Esse costuma ser o estágio da maior parte dos ativistas.

6. síntese de identidade: no último estágio prevalece a integração entre gays e heteros, e o indivíduo começa a compreender que nem todos os heterossexuais são antigays. O indivíduo reconhece e luta contra a homofobia e o preconceito, mas de uma forma mais tranqüila e sem sentir-se ameaçado. Consegue integrar sua afetividade e sua sexualidade a todas as áreas da vida.

O modelo da Doutora Cass pode e deve ser utilizado como um instrumento para a compreensão do processo de formação da identidade gay. Porém, como qualquer modelo teórico, limita-se a descrever cada um dos estágios, a partir de pesquisas e observações clínicas, e a explicar sua dinâmica, segundo o conhecimento sobre o tema adquirido até o momento. Mas sem desconsiderar as diferenças individuais e as singularidades envolvidas nesse processo, que é tão complexo e que costuma durar a vida toda.

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