Por que alguns homens saem com outros e continuam se declarando HÉTEROS?

Héteros que fazem Por que alguns homens saem com outros e continuam se declarando héteros?
A história é bem conhecida de vários gays: sai com o amigo hétero, ele bebe, a bee leva o marmanjo para casa e, lá pelas tantas, os dois acabam fazendo sexo. O que pensar de uma situação dessas? Chamar o amigo de enrustido? Pensar que ele é homo, mas tem medo de sair do armário? O Mix Brasil quis ouvir respostas sobre o quiprocó e, ao que parece, a resposta não é tão simples assim. Todos os héteros que “dizem sim” entrevistados se recusam a ser chamados de “enrustidos”. “Não tem nada a ver. Eu gosto de mulher, mas já fiquei com alguns amigos. Foi só diversão e resultado de bebedeira. Farra mesmo”, diz o go-go boy Alex, que pela profissão tem contato quase diário com gays. "É sexo, apenas isso", responde Henrique Oliveira. "É uma forma de gozar e que não interfere na minha sexualidade como um todo. Desde que eu não tenha tanto envolvimento com o gay, não vejo problemas". Alguns homens que já ficaram com héteros compartilham da mesma opinião. "Eu acho super válido”, comenta o escritor e roteirista Stevan Lekitsch. “A humanidade está chegando a um ponto em que todo mundo está livre para experimentar o que quer. Não sou da opinião de que hétero que faz é gay. Penso que hétero que faz é hétero que tem experiências com outro homem. Vou dar um exemplo muito parecido: não é porque você comeu salada no almoço, que pode ser chamado de vegetariano." Sobre as práticas, a coisa fica mais limitada. São vários os relatos daqueles que até transam, mas não querem dar beijo na boca. "Eu jamais faço sexo oral no cara", completa Henrique. "Com mulheres, tenho mais envolvimento. A interação é maior. Eu gosto de explorar o corpo todo da mulher". Alex afirma que experimentou beijar outro homem, mas não gostou. “É engraçado, Eu gostei da troca de carinho, de dormir abraço, do sexo. Mas beijar não foi uma experiência boa”. O fetiche do amigo hétero atrai muitos gays, A seção de contos do Mix Brasil é cheia de relatos desse tipo. Na Europa, o sociólogo Daniel Welzer-Lang verificou, por meio de uma extensa pesquisa, que 61,1% dos héteros já consideraram a possibilidade de fazer sexo com outros homens e 27,8% chegam até a fantasiar a experiência. O resultado está no livro “Os homens também mudam” (Editora Payot). A postura “liberal”, assumida pelos héteros que fazem, mostrando-se tão bem resolvidos sexualmente a ponto de deixarem-se levar pela ocasião com outros homens é, no entanto, contestada por profissionais. A psicóloga Cristiane Mendes Alves comenta que se trata, na maior parte dos casos, de medo de assumir sua sexualidade. “Eles não são tão héteros quanto dizem. No mais escondido dos desejos, é ali que está o sujeito, dizia Lacan. Eu acredito que esses homens têm medo de se revelarem bissexuais diante dos outros”. A mesma opinião é compartilhada por sua colega Cátia Oliveira. “O que é ser bi? É uma questão de prática ou de postura existencial?”, ela pergunta. “Se for de prática, esses héteros são bissexuais, sim. Mas se for pensar do ponto de vista existencial, eles não se vêem dessa forma. No fundo, dizer-se hétero são desculpas para não entrar em contato com sua própria diversidade sexual interna”. Cátia separa, dessa forma, os dois níveis da questão: “No momento que está com outro homem, o sujeito está sendo gay, mesmo que não carregue isso para o resto de sua existência”. Pegaram o recado? A vida não é mesmo preto no branco. Ainda bem!