domingo, 24 de outubro de 2010

REFLEXÃO DO DIA - HOMOFOBIA

ORKUT SEM LEI - Homofobia: do humor “inocente” aos relatos de violência


“Quem já espancou um veado?”, pergunta Ronaldo Ineu Guedes na comunidade Eu odeio viados, do Orkut, com mais de mil pessoas. Ele mesmo respondeu, no dia 28 de julho: “Eu já espanquei, foi antes do carnaval. O puto deu parte de mim, depois quase fui preso e quase perdi o carnaval! Mas não me arrependo nem um pouco”.

Em comunidades como Eu zôo travecos,com 847 membros, há diversos relatos de violência praticada contra travestis, nas ruas de cidades como São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Vitória.

“Eu já soltei rojão também, e joguei o extintor do carro nesses filhos da puta”, contou o surfista Paolo, no dia 26 de junho. Outros relatam espancamentos, humilhações e contam que jogam ovos e até dão tiros com espingarda de chumbo ou pistola de paintball. “Boas essas idéias”, analisou no dia 20 de agosto o capixaba Yuri Mariano, de 18 anos. “Mas também dá para fingir que vai dar carona pro bicha e quando ele estiver entrando, você arranca com o carro. Aí a bicha vai ficar no chão, já fiz isso. Se estiver com muita raiva, dá até para dar uma rezinha."

Pessoas com nome, sobrenome e outras identificações participam de comunidades como Matem os travecos, com descrições como esta: “Traveco bom é traveco morto. Então não fique aí sentado esperando. Quando encontrar um traveco na rua, bata nele até ver o filho da puta vomitar sangue!!!”

Assim como ocorre com o racismo, a maior parte das comunidades explicitamente homofóbicas sai do ar em pouco tempo. Mesmo assim, elas somavam nesta terça-feira mais de 5.000 membros. Algumas não pregam a violência, mas definem o homossexualismo como câncer ou algo anormal. Uma delas coloca entre as comunidades relacionadas – o moderador da comunidade pode escolher 9 fóruns desse tipo – uma chamada Saúde Mental e outra sobre HIV/Aids, reforçando estereótipos.

A defesa da violência aparece ainda em comunidades que não têm nada a ver com temáticas homofóbicas. É o caso do fórum KDM Clube de Ginástica, uma academia no Rio de Janeiro. “Está foda de malhar e ficar um monte de bicha dividindo aparelho com cueca enfiada no rabo”, afirmou em janeiro Marcelo Guimarães, um fã ardoroso de surf e jiu-jitsu. “Vai chegar a hora em que a KDM vai virar point gay da Tijuca”, reclama. “Hostilização já!”

Homofobia em escala

Nem tudo descamba para a apologia da violência e discriminação de homossexuais, mas a base cultural da homofobia no Orkut é bem mais ampla que a das comunidades acima. Ela se manifesta em pelo menos três vertentes principais:

1) Comunidades contra personalidades. Jean, do Big Brother Brasil 5, é um dos principais alvos, ao lado dos apresentadores Clodovil e Leão Lobo. O fórum Eu odeio Jean do BB5 tem mais de 5.000 pessoas. Entre as mulheres, uma das citadas é a empresária Marlene Mattos. Em comum, ocorre o linchamento da imagem de um profissional a partir de sua opção sexual.

2) Comunidades “humorísticas”. São engraçadinhas, mas homofóbicas, e existem às dezenas. Caso da Sem camisa no Orkut = viado, ou da Zagallo é viado tem 13 letras, com mais de 13.000 pessoas, sobre o auxiliar técnico da seleção brasileira.

3) Comunidades de times de futebol. Xingar a torcida do time adversário de veado é algo comum a todas as comunidades de torcida de futebol. Os times gaúchos do Grêmio e Internacional criaram comunidades similares: Colorado eh tudo viado, com mais de 14.000 pessoas, e Odeio bichonas castelhanas. Uma da torcida do Atlético contra a do Cruzeiro, de Belo Horizonte, tem mais de 6.000 integrantes.

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